windmills by fy

25/02/2010

des … significar … se

Filed under: Uncategorized — Fy @ 6:54 PM

 DES …SIGNIFICAR …SE

” La pureté et l’innocence ” ,

Texto :  Michel Tournier

Tradução : Francisco Fuchs

 

 

 

 

 

 

A  P u r e z a  e  a  I n o c ê n c i a

por Michel Tournier

 

 

A pureza de um corpo químico é um estado absolutamente contranatura que só pode ser obtido por procedimentos que implicam violência.

O caso mais simples é o da água.

O que é a água pura?

Ela pode ser uma água desembaraçada, por ebulição ou filtragem, das bactérias e vírus que ela continha.

Trata-se de uma pureza biológica.

Mas se aquilo que se busca é a pureza química, serão realizadas distilações sucessivas

– a água corre num alambique prolongado por uma serpentina resfriada

– para eliminar os sais e os traços de metais.

Mede-se a pureza da água tratada desse modo pela sua resistência a deixar passar uma corrente elétrica,

pois a água só é condutora graças aos sais minerais que contém.

Esse fenômeno é utilizado para livrar os diabéticos das uréias,

ácidos úricos e outras toxinas que se concentram no seu sangue,

uma vez que seus rins já não as filtram.

 

Essa água “pura” age sobre os organismos vivos como um veneno violento.

Quando ela é ingerida por um organismo,

os humores e todos os sais minerais veiculados pelo sangue irão precipitar-se para ela,

posto que ela lhes dá a oportunidade de se diluírem mais.

 

 

 

 

 

 

Mas, essa diálise, necessária nesses casos patológicos,

torna-se catastrófica nos indivíduos cujas taxas plasmáticas de sais são normais.

Assistir-se-á a uma fuga do cálcio e do potássio sangüíneos que pode acarretar a morte.

Com efeito, o coração só bate graças a uma corrente elétrica sustentada por um equilíbrio cálcio-potássio no sangue.

 

 

 

 

 

A absorção de água “pura” pode provocar também hemorragias estomacais,

 intestinais

ou

cutâneas.

 

 

 

 

 

 

 

Esses males físicos da pureza ainda não são nada se comparados aos crimes inumeráveis que sua idéia obsessiva provocou na história.

 

 

 

 

 

 

 

 O homem cavalgado pelo demônio da pureza semeia a morte e a ruína em torno de si.

 

 

 

 

 

 

 

Purificação religiosa,

 

 

 

 

 

 

depuração política,

 

 

 

 

[ aqui , faço uma Homenagem às 13 meninas ASSASSINADAS por FUSILAMENTO 

em nome da Purificação da DITADURA FRANQUISTA  lembrando que DITADURA e TERROR  são SINÔNIMOS ] 

 

 

 

 

 

 

salvaguarda da pureza da raça,

 

 

 

 

 

 

 

busca anticarnal de um estado angélico,

 

 

 

 

 

 

 

todas essas aberrações desembocam em massacres e infelicidades inumeráveis.

 

 

 

 

 

 

É preciso lembrar que o fogo

– ” pur ” em grego –

é o símbolo das fogueiras,

da guerra e do inferno.  

[ Em francês, “pur” quer dizer puro. Curiosamente, as duas palavras são pronunciadas da mesma forma: “pír”. (N.T.) ]

 

 

 

 

 

 

Por oposição à pureza, a inocência parece ser sua inversão benéfica.

Inocente é o animal, a criancinha e o débil mental.

 

 

 

 

 

Sobre eles, o mal não tem poder.

 

 

O homem adulto e razoável pode fixar como um ideal :  

um estado que é o de sua primeira infância prolongada e preservada.

 

 

 

 

 

 

 

A inocência é amor espontâneo do ser, sim, à vida, aceitação sorridente dos alimentos celestes e terrestres,

ignorância da alternativa infernal pureza-impureza.

Certos santos, como São Francisco de Assis, parecem viver nesse estado em que a simplicidade animal se conjuga com a transparência divina.

 

 

 

 

 

 

 

 Porém trata-se de um improvável milagre.

 

 

 

No romance de Dostoiévski , O Idiota   – 1868-1869 –   ,

o príncipe Míchkin ,

devorado por uma piedade devastadora ,

revela-se incapaz de amar uma mulher ,

de resistir às agressões do mundo exterior

 e finalmente de viver.

 

 

 

 

 

 

Ele é fulminado pela epilepsia .

 

 

 

 

Texto de Michel Tournier que encerra uma singularidade muito especial do ser humano:

o   “Ser”  Humano .   

 

 

 

 

Michel Tournier  ” La pureté et l’innocence ” – 

IN Le miroir des idées –  Paris –  Mercure de France –  1994

 pp. 171-174

Tradução de Francisco Fuchs

 

 

Ilustrações:

Aka Lousie

Kukula

 

Fy

 

 

     

 

 

 

36 Comments »

  1. fulminado pela epilepsia.

    duda

    Comment by duda — 26/02/2010 @ 7:04 AM

  2. “ Quem, se eu gritasse, me ouviria dentre as ordensdos anjos?

    e mesmo que um me apertasse de repente contra o coração:

    eu morreria da sua existência mais forte.

    Pois o “belo” não é senão o começo do terrível, que nós ainda mal podemos suportar, e admiramo-lo tanto porque, impassível, desdenha destruir-nos.

    Todo o anjo é terrível.”

    Rainer Maria Rilke (1875-1926),
    Áustria
    in As Elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu

    FORA O AUTISMO.

    FORA A DITADURA.

    BJ

    André

    Comment by André — 26/02/2010 @ 7:18 AM

    • Fora o Autismo

      Fora a Ditadura!

      Count me in !!!

      “Sou meu próprio líder: ando em círculos
      Me equilibro entre dias e noites
      Minha vida toda espera algo de mim
      Meio-sorriso, meia-lua, toda tarde”

      A Montanha Mágica – Legião

      Bjs
      Fy

      Comment by Fy — 07/03/2010 @ 5:45 PM

  3. O paradoxo de Bertrand Russell

    A formulação do paradoxo de Russell foi possível, em certo sentido, como decorrência da elaboração, por Cantor, de sua “teoria abstrata de conjunto”, na qual rompe com a restrição aristotélica sobre a forma de ser das finitudes e estabelece definições operativas como de potência (Rezende, 2002, p.5).
    Tais definições, por sua vez, ofereceram o horizonte discursivo necessário para que pudessem ser formuladas asserções impredicativas em paradoxos, como o fez Russell, ao definir “como ‘W’ o conjunto dos conjuntos que não pertencem a si
    mesmos” (idem, p. 19).

    A antinomia de Russell traz implícita a possibilidade lógica da existência, em uma população, de elementos que, apesar de pertencerem a ela, não fazem parte, paradoxalmente, dela mesma. Portanto, seria legítimo supor, por derivação, que não estariam sujeitos à mesma norma do conjunto do qual fariam parte.

    Mantendo o raciocínio lógico desse paradoxo, talvez pudéssemos afirmar que um elemento estranho deveria, pois, pertencer ao conjunto, ser parte constitutiva dele, ser um elemento logicamente necessário ao todo – embora, vale enfatizar, paradoxalmente, ‘extraneus’ a ele.

    (continua)

    Comment by Coringa — 01/03/2010 @ 7:34 AM

  4. Uma parábola…

    POR QUE MATAMOS O BARBEIRO?

    Em algum lugar haverá uma cidade que chamaremos de ‘A’. Nela, todas as pessoas cortam o cabelo no mesmo barbeiro (B). Portanto, ‘W’ poderia ser considerado o conjunto de todas as pessoas que, morando em A, cortam o cabelo com B. Estranha situação a de B: ele é a única pessoa que, embora nativo da cidade, não corta o cabelo consigo mesmo e, portanto, não pode, ao menos por definição, pertencer ao conjunto W,do qual todos os seus demais compatriotas fazem parte. Aliás, ele nunca havia cortado o cabelo. Como Guer do Antigo Testamento, 10 ele insistia em sua diferença. Entretanto, dividia alegrias e sofrimentos com aqueles
    que solicitavam seus serviços. Ah! Sim, havia uma interdição que ele, delicadamente, impunha: ele jamais se narrava ou se contava como mais um entre os demais…

    Na clausura desse silêncio ia, pouco a pouco, convertendo-se em estrangeiro. Nada se sabia de sua vida pregressa, quando teria nascido, se seria casado, que doenças teria tido, a quem haveria amado, o que teria acumulado de conhecimentos sobre a vida, que saberes eram esses, etc. B insistia apenas em compartilhar a dádiva que era viver o presente. Por outro lado, todos os demais, como sói ocorrer com frequentadores de barbeiros, confidenciavam-lhe segredos, medos, pavores e toda a sorte dessas quinquilharias vividas, desejadas ou temidas no dia-a-dia de vidas tediosas, e previsivelmente normais. Ele era assim como um sujeito bricolage, fragmentos múltiplos de todos em sua escuta. Desse modo, cada um que cortava o cabelo em B podia nele se ver como uma espécie de imagem refletida no espelho – tornou-se B, sem querer, ou sem que tivesse consciência, um duplo desse outro que nele se confessava, que se mostrava, desavergonhadamente, em seus cantos mais emudecidos e escuros. Aos poucos, o silêncio da escuta tornou-se ameaçador. Um dia, B apareceu morto – inúmeras incisões atravessavam-lhe o corpo.

    O Estado, por meio da Delegacia Civil, acabou por encerrar o caso por falta de provas que conduzissem a um mesmo e único suspeito (ou pelo menos ao golpe fatal). E cada pessoa, de modo constrangido e cúmplice, silenciou-se definitivamente em relação à morte do barbeiro, e de algum modo, à morte de si mesma.Entretanto, em noites frias e longas de inverno, cada um, em sua cama, acabava por se perguntar: POR QUE MATAMOS O BARBEIRO?

    (Reflexões preliminares sobre a paradoxal exclusão do outro – Por Regina Maria de Souza & Silvio Gallo)

    Comment by Coringa — 01/03/2010 @ 7:42 AM

    • Hi BigLion,

      Demais!

      Venceste e eu me rendo. Contudo, de agora por diante, tu também estás morto… Morto
      para o Mundo, para o Céu e para a Esperança! Em mim tu vivias… E, na minha morte,
      vê por esta imagem, que é a tua própria imagem, quão completamente assassinaste a ti
      mesmo!”(POE, 1940, p. 21)

      Bjs

      Comment by Fy — 07/03/2010 @ 5:49 PM

  5. O termo estrangeiro deriva do latim ‘extraneus’ que, como qualificativo, significa “vindo de fora”. Mas foi apenas a partir do Império Romano que ‘estrangeiro’ adquire conotação política. Até o século XIV, em francês a palavra ‘estrange’ – que havia aparecido no século XII – designava tudo aquilo que não era comum ou que não se oferecia à compreensão. No francês atual, ‘étrange’ (estranho) faz parte da raiz de ‘étranger’ (estrangeiro) – atributo tanto de quem é estranho como de quem vem do ‘extérieur’.

    No inglês do século XVI, ‘strange’ dizia respeito tanto à mulher adúltera quanto aos elementos bastardos de uma família, ou, em outros termos, a tudo o que não fosse (reconhecidamente) familiar. Só depois do século XVIII passou a significar uma pessoa, objeto ou ser oriundo de outro país. No Oxford Advanced Learner’s Dictionary lê-se que ‘foreigner’ (estrangeiro) é uma pessoa de um lugar outro que não o seu país, ou alguém que não tenha vínculo de pertencimento a uma comunidade, a ‘stranger’ or ‘an outsider’. Em alemão, ‘fremd’ relacionava-se, primeiramente, ao não-familiar. O sentido de ser estrangeiro agregou-se, mais tarde, à palavra ‘ausslander’.

    “Consideremos assim que, do ponto de vista da língua, e por extensão do
    pensamento, o conceito de estrangeiro transformou-se de algo não-familiar
    em uma categoria sociopolítica, com tudo o que isto comporta. Seria
    analogismo exagerado pensar que algo semelhante acontece com o indivíduo?” (Koltai,2000, p. 23)

    Em ‘O Estranho’ (Unheimlich), Freud (1919/1976) faz um fascinante
    estudo da palavra ‘unheimlich’, buscando verificar as possibilidades de sua
    tradução em outras línguas. Para ele, em português, não haveria nenhum
    bom termo que pudesse traduzir o significado que teria em alemão.
    Todavia, afirma que em inglês há um termo bastante apropriado para ele
    – ‘uncanny’ – termo negação de ‘canny’ (arguto, prudente, precavido em assuntos de negócios, gentil, moderado, inofensivo) que pode, por seu turno, significar não apenas ‘cosy’(confortável, aconchegante) como algo misterioso, dotado de estranhos poderes. ‘Uncanny’ refere-se, por sua vez, a algo não facilmente explicável, não-natural, não-familiar e levemente assustador.
    O estranho é, antes de tudo, algo que se tornou ‘unheimlich’ por ter sido antes familiar (‘heimlich’) – a imagem no espelho que não é reconhecida como sendo eu mesmo, por exemplo.

    Se a teoria psicanalítica estiver correta, ‘unheimlich’ é efeito de um
    material que retorna, um desejo que há muito foi interditado por repressão.(!)

    Comment by Coringa — 01/03/2010 @ 8:20 AM

  6. “De que valeria a obstinação do saber se ele assegurasse apenas a aquisição dos conhecimentos e não, de certa maneira, e tanto quanto possível, o descaminho daquele que conhece?”
    (Foucault, 1998b, p.13).

    (…) podemos supor que a morte do barbeiro poderia ser explicada como efeito de um intenso amor e ódio ao outro (ambivalência). E por isso sua exclusão definitiva foi tão desejada quanto temida ou perturbadora. Perturbadora porque cada pessoa, ao matar o barbeiro, matou, sem ter se dado conta, partes de si que haviam sido entregues a ele. Fazer surgir esses pedaços esquecidos e
    desejados impelia cada uma delas a entrar em um jogo de repetição permanente, metaforizado na insistente pergunta: Por que matamos o barbeiro?

    O barbeiro foi o personagem que entrou em cada uma daquelas vidas e aceitou que falassem de si; e elas, ao se entregarem a si mesmas com suas palavras, foram se tornando, pouco a pouco, textos vivos inscritos nele. Escritas e confissões de desejos transferidas de si mesmas para o corpo dele (palavras que se perdiam no labirinto dos ouvidos do homem desejado – onde estariam?). Um ‘Ele’ silencioso que relutava em compartilhar dessa entrega. Em outras palavras, insistia em não se tornar familiar; um amigo, um duplo, um fraterno ao qual se pudesse oferecer como uma imagem de identificação. Ao se opor à própria assimilação, tornou-se ‘unheimlich’. Insistia em viver o presente, no aqui-e-agora desses pequenos momentos de (re)encontro. O barbeiro satisfazia-se, pois,de
    modo diferente: tinha lá outras formas de “gozo” e elas ameaçavam a forma como cada um sabia ser feliz. Formas de ter prazer/ser feliz que aquelas pessoas não possuíam.

    Por conta do jogo dessa ambivalência é que, para Pontalis (1991), (…) o fenômeno racista só surge quando o “estrangeiro” está na cidade. (…) O racismo encontra suas fontes na oposição entre próprio e estrangeiro (…) mas para expulsar é preciso antes ter ingerido. Só se vomita o que se engoliu. Não há corpo estranho senão dentro do próprio corpo. (…) Depois, já não há no racista oscilação entre atração e medo, essa fascinação confusa pelo estranho e estrangeiro. (…) O racista separa, cliva, há nele um amor pelo seu ódio. (P. 39-40)

    Para Foucault (2000), o racismo foi antes uma ideologia científica – saberes sobre as chamadas degenerescências biológicas, raças, funcionamento normal etc. – agenciada, depois, tanto pelos governos de direita como pelos de esquerda, para compor as estratégias de regulamentação e explicações de ações pelo Estado.
    Para a psicanálise, o racismo advém de um extremo ódio e fascínio pela forma do gozo alheio – pelos modos como o outro quer/sabe ‘ser feliz’; formas de vidas outras que nos fazem ter a incômoda sensação de que talvez pudéssemos ser felizes de outros jeitos. ‘Unheimlich’

    Segundo Koltai (2000), para Lacan, “é a negação do estrangeiro que une os semelhantes; é a segregação que funda a fraternidade” (p.98). Nesta perspectiva, toda a sociedade teria, em sua origem, se baseado na segregação, condição para a existência de iguais. Iguais que, em nossos dias, compõem-se em grupos, propagam suas semelhanças (políticas, ideológicas etc.), insistentemente declaram suas diferenças com os outros grupos e arregimentam (mais) iguais (discípulos). Para os lacanianos, dessa igualdade se teria originado a fraternidade – laço real, ou simbólico, entre irmãos. A fraternidade seria, com base nessa premissa, efeito de um processo que tornou domésticas as diferenças, submetendo-as a um certo jogo de semelhanças. Por isso, e em certa medida, a fraternidade poderia ser entendida como o resultado de mecanismos racistas para a produção daquelas semelhanças. O estranho faria retornar tudo o que precisou ter sido deixado, ou alienado, para a composição desse desejo coletivo de se estar junto. Um corpo desejante não mais individual, mas social. Silenciamentos necessários, preço a ser pago por se conviver em sociedade. O estranho – personagem que nos provoca uma inquietante perturbação e, de
    algum modo, nos faz sentir, ao menos uma ou outra vez, sem que saibamos dizer bem por quê, certo mal-estar de vivermos em civilização.

    (continua)

    Comment by Coringa — 01/03/2010 @ 9:47 AM

  7. A questão é que não sabemos mais como ser livres – nossa liberdade também é definida por normas que, embora necessárias, são sempre arbitrárias e políticas (nada têm de naturais; são historicamente determinadas). E com base nelas, também julgamos a legitimidade moral de nosso próprio prazer.

    Em lugar de cairmos no imobilismo de temer uma sociedade de controle – que se
    coloca para além do disciplinar, que aparentemente nos liberta das instituições, mas que se coloca como o “grande olho” que permite controlar os movimentos de todos, no limite exercendo o poder de deixar morrer”, pelo exercício do racismo de Estado ou de outros mecanismos de apagamento das diferenças – podemos assumir a perspectiva do exercício de contrapoderes, de fazer emergir novas possibilidades.

    Em suma: escapar ao controle é possível. Hardt e Negri (2001) colocaram em epígrafe a ‘Império’ uma frase da roqueira alternativa Ani DiFranco que se mostraria mais que profética: “Sabendo portá-la, toda ferramenta é uma arma”. Por mais controle que se exerça sobre os indivíduos, a criatividade e a positividade do poder permitem a eclosão de possibilidades, da presença de diferenças.

    Para a psicanálise, o gozo é uma conquista diária; e não inclui apenas a sensação prazerosa da conquista, mas um certo (des)conforto sempre presente – não há conquista total. E isso é efeito da impossibilidade fundante de sermos uno ou completos – estamos fadados a uma errância permanente. Em nossas viagens, do ponto de vista da psicanálise, é sempre produtivo conhecermos, nos limites do possível, esse território estrangeiro que somos nós para nós mesmos. Recurso
    interessante para podermos tirar vantagens em nossas lutas diárias pelo gozo ou para que possamos lembrar, ao menos vez ou outra, que o maior projeto da vida é existir. E existir é também poder permitir ao outro a liberdade de existência.

    “O progresso, como o andar, consegue-se perdendo e
    ganhando equilíbrio”. (FREUD )

    (Trechos escolhidos de: Educação & Sociedade, ano XXIII, n o 79, Agosto/2002 )

    The End 😛

    Comment by Coringa — 01/03/2010 @ 9:55 AM

    • o maior projeto da vida é existir.

      Bjs

      Fy

      Comment by Fy — 07/03/2010 @ 5:51 PM

  8. Tudo a ver…

    Mais de 5 mil voluntários desafiaram a temperatura do início da manhã nesta segunda-feira (01/Mar) para posarem nus para o fotógrafo americano Spencer Tunick diante da Ópera de Sydney, na Austrália. Pessoas de todas as idades se posicionaram nas escadas do célebre edifício em forma de concha.

    Spencer Tunick é famoso pelas fotos de nus coletivos em lugares públicos de grandes cidades de todo o planeta.

    http://www.divirta-se.uai.com.br/html/galeria_foto/2010/03/01/galeria_mostrar/id_galeria=1996/galeria_mostrar.shtml

    Comment by N us — 02/03/2010 @ 7:20 AM

  9. Ok… se os dois textos que eu li forem uma boa amostra da qualidade do blog, vc’s me cativaram (apesar dos desenhinhos).

    Pra tentar acrescentar algo aos exemplos: Laranja Mecânica fala dos sofrimentos do homem privado de sua agressividade; Dr. Jekyll se perdeu numa tentativa vã de separar a maldade da bondade…

    Comment by Anarcoplayba — 04/03/2010 @ 7:11 AM

  10. Qualquer conceito de Pureza ou Catarse uma vez aplicado, não passa de uma tentativa artificial ou forçada de paralisar um processo natural. Significa antes de mais nada o exercício do “anti”: anti-raciocínio, anti-reflexo, anti-reação, anti-emoção, anti-conclusão,etc…, um treinamento para que o homem se transforme cada vez mais em um ser anti-humano.
    Estas e diversas paranóicas buscas da tal depuração não passam das tão conhecidas
    autoflagelações espirituais e torturas de raciocínio. Eu imagino que tais seres vivam em permanente estado depressivo ou em permanente controle pra que esta fuga da realidade física e mental possa ser “atingida”, e não creio que a mesma ocorra sem a utilização de técnicas forçosamente anti-naturais que possam viciar estados mentais, ou, ainda, no lugar de depressão algum estado também artificial de euforia; sob a forma de inversão carnavalesca, na qual usufruam de uma total desnecessidade do corpo, da vida e seus anseios naturais. Alguns poucos, descompensados, ainda o fazem. Há, entre seguidores quem já tenha, com efeito, atingido o estágio de pleno autismo intelectual. Estágio considerado “divino” ou “real”.
    Não há como atingir este estágio sem reprimir:desde que o cara seja normal, e aí inevitavelmente incorremos no comentário do amigo Coringa:
    Se a teoria psicanalítica estiver correta, ‘unheimlich’ é efeito de um
    material que retorna, um desejo que há muito foi interditado por repressão.(!)

    E do Anarcoplayba:
    Pra tentar acrescentar algo aos exemplos: Laranja Mecânica fala dos sofrimentos do homem privado de sua agressividade; Dr. Jekyll se perdeu numa tentativa vã de separar a maldade da bondade…

    Que se resumem em tentativas de alterar o mecanismo natural ou normal do comportamento humano em geral. Destituir o ser-humano de suas reações naturais é criar um ser adulterado. Lembrando até de uma observação ao comentador Caio, que fez uma alusão à ansiedade ou à ânsia do ser humano. Existe um grau de ansiedade muito positivo em nós humanos que age de forma similar ao desejo. É um impulso, um agente motivador e que como qualquer outro fator só se torna nocivo quando descompensado,incluindo-se tambem neste termo a total ou a busca pela total ausência de ansiedade.

    Abraços
    Renato

    Comment by Renato — 06/03/2010 @ 3:09 PM

    • Renato,

      Destituir o ser-humano de suas reações naturais é criar um ser adulterado.

      des-ti-tu-ir : palavrinha chave esta.

      treinamento para que o homem se transforme cada vez mais em um ser anti-humano.

      é isso.

      Bjs
      Fy

      Comment by Fy — 07/03/2010 @ 5:55 PM

  11. Esses males físicos da pureza ainda não são nada se comparados aos crimes inumeráveis que sua idéia obsessiva provocou na história.
    O homem cavalgado pelo demônio da pureza semeia a morte e a ruína em torno de si. Purificação religiosa, depuração política, salvaguarda da pureza da raça, busca anticarnal de um estado angélico, todas essas aberrações desembocam em massacres e infelicidades inumeráveis.
    É preciso lembrar que o fogo – “pur” em grego – é o símbolo das fogueiras, da guerra e do inferno. [ Em francês, “pur” quer dizer puro. Curiosamente, as duas palavras são pronunciadas da mesma forma: “pír”. (N.T.) ]

    Por oposição à pureza, a inocência parece ser sua inversão benéfica. Inocente é o animal, a criancinha e o débil mental.

    Meu voto pro tal Tournier, e começando pelo André, tudo isso caracteriza perfeitamente tanto os políticos quanto os líderes religiosos. A idéia de santidade, pureza ou inocencia, é uma das causas de stress inconsciente mais prejudiciais ao homem. As pessoas são induzidas a mortificar, sufocar seus sentimentos mais originais e naturais, substituindo-os por teorias criadas pelo homem com o intuito de estratificar: através de ítens semelhantes ou características similares: igualar. E igualar é “anular”.

    A busca de algum próprio-significado em meio à igualdade demonstra a faceta do homem que se fecha a uma visão mais profunda da natureza íntima do ser-humano. Isto implica em não ser humano, em apenas: ser-igual.

    do Coringa: – muito bem lembrado e à propósito:

    Segundo Koltai (2000), para Lacan, “é a negação do estrangeiro que une os semelhantes; é a segregação que funda a fraternidade” (p.98). Nesta perspectiva, toda a sociedade teria, em sua origem, se baseado na segregação, condição para a existência de iguais. Iguais que, em nossos dias, compõem-se em grupos, propagam suas semelhanças (políticas, ideológicas etc.), insistentemente declaram suas diferenças com os outros grupos e arregimentam (mais) iguais (discípulos). Para os lacanianos, dessa igualdade se teria originado a fraternidade – laço real, ou simbólico, entre irmãos. A fraternidade seria, com base nessa premissa, efeito de um processo que tornou domésticas as diferenças, submetendo-as a um certo jogo de semelhanças. Por isso, e em certa medida, a fraternidade poderia ser entendida como o resultado de mecanismos racistas para a produção daquelas semelhanças. O estranho faria retornar tudo o que precisou ter sido deixado, ou alienado, para a composição desse desejo coletivo de se estar junto. Um corpo desejante não mais individual, mas social. Silenciamentos necessários, preço a ser pago por se conviver em sociedade. O estranho – personagem que nos provoca uma inquietante perturbação e, de algum modo, nos faz sentir, ao menos uma ou outra vez, sem que saibamos dizer bem por quê, certo mal-estar de vivermos em civilização.

    Gentilezas à parte, este certo mal-estar está destruindo o planeta e, sempre destruiu seres-humanos.

    Todas as religiões, filosofias que pregam o desinteresse pela vida humana,são idênticas em sua manipulação política: cristianismo,islamismo, budismo: todas pregam uma salvação fora do mundo.

    No hinduísmo os conceitos centrais são Moksha ou a cessação do ciclo de reencarnações e conseqüentemente do sofrimento, e Karma, a lei de causa e efeito que determina como você reencarnará. Se procurarmos o sentido dos conceitos das “religiões” muçulmana,sikhs, cristãos, budistas encontramos exatamente a mesma coisa, cada uma puxando a sardinha pra seu respectivo palavrório. E o povão babando, maestrado pelo cabresto:

    No cruel sistema de castas santificado pela religião hindu, a miséria dos oprimidos é considerada um castigo pelo seu comportamento numa vida anterior e os privilégios das castas superiores um direito atribuídos pelos deuses. No topo desse sistema cruel sentava-se o rei, convenientemente considerado uma reencarnação de Vishnu pela religião hindu.

    O budismo: uma salvação fora do mundo
    Para o discípulo de Buda, o objetivo é escapar do mundo
    ilusório e efêmero do samsara, mundo de sofrimento e de
    não-permanência, onde o homem está condenado a renascer
    perpetuamente em existências mortais e infelizes. Para isso, é
    preciso seguir o nobre caminho óctuplo pregado por Buda, caminho
    à base de ascese, de desprendimento, de compaixão por
    todos os seres, de disciplina mental e de contemplação. Assim
    pode esperar extinguir o seu karma, isto é, a marca em si de todos
    os maus atos voluntários que cometeu, karma, que é causa
    dos renascimentos sucessivos. Então alcançará o despertar que
    conduz ao nirvana; e não renascerá nunca mais neste mundo de
    sofrimentos. Quanto à natureza deste nirvana, Buda se recusa a
    dizer o que quer que seja, considerando mesmo que se trata de
    uma vã curiosidade que só serve para entreter o karma.
    Tudo se desenrola, pois, para o budismo, pela capacidade
    do sujeito de escapar por ele mesmo (pondo seus passos no caminho
    de Buda) do samsara e de atingir, assim, o nirvana, verdadeiro
    substituto do transcendente. Na verdade não visa traduzir o interesse pela natureza e pela sociedade (que fazem parte do samsara), mas o esforço
    que deve fazer o discípulo para afastar-se, pela ação justa e uma
    conduta de compaixão, das realidades terrestres, tanto naturais
    quanto sociais.

    Ou seja: uma purificação de toda e qualquer realidade.

    “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
    Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça, porque serão saciados.
    Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, porque o reino dos céus é para eles.” (Mateus, cap. V, v. 6 e 10)

    O pobre povo tibetano, depois de enfrentar séculos de submissão à teocracia dos Dalai-Lama, inquestionáveis reis de direito divino a quem o povo deveria se prostrar enfiando a cara no chão,exatamente como o cristianismo na idade média,e seu eterno saudosismo, povo enfrenta ainda hoje uma ditadura ainda pior, com o cruel e despótico governo comunista chinês que pratica a ablação sistemática da cultura tibetana e reduz o povo a nada. O que aliás é mesmo a aspiração maior de sua existência:o nada.

    E o povo é “treinado” a achar isto o maior barato, quanto mais sofrimento, maior a depuração e o livramento.e vivem com as normas aprendidas nos templos,que ensinam a viver na pobreza pacificamente. E nóis aqui, curtindo uma de budistas, orientais e felizes parvos,achamos a India, e afins um “mistério tão imanente, transcedente, inexplicável ( que é a explicação mais legal), vamos morar la, um povo que toma banho aonde ele mesmo cága, joga defunto no rio, usa bosta de vaca para purificar um novo poço que se abriu no quintal, vive numa simplicidade “fatal”, claro que não vai ter motivo nenhum pra querer viver ou achar a vida o maior barato.

    “Lembro que vi milhares de farrapos humanos, dormindo num leito de pedra gasta, tendo o céu como tecto e o solo como chão de uma moradia. Vi crianças que se amarravam às minhas pernas, chorando “rupias de carinho”, vi mulheres a carregar pedras à cabeça, vi homens a urinar e a defecar nas ruas, faziam-no em qualquer canto e vi também, vacas a espreitar em autênticas crateras existentes nas estradas.”

    A continuação desta reportagem recente é braba: se quiser Fy te passo pra um post.

    Demagogia: Dominação ou preponderância das facções populares; conjunto de processos políticos hábeis tendentes a captar e utilizar com objetivos menos lícitos, a excitação e paixões populares; afetação ou simulação de modéstia, de pobreza, de humildade, de desprendimento, de tolerância, etc. com finalidade demagógica.

    Abraço aê

    TocaYo

    Comment by TocaYo — 06/03/2010 @ 4:58 PM

    • Estranho… não é?

      Não é melhor sentir que uma onda do mar estourando na pele é um abraço da gargalhada de deus, seja ele o que for?

      Eu acho q a Realidade ainda oferece as melhores respostas.

      Diz aê, Cayto, se observar ainda não é o melhor negócio! Passar a vida interpretando, é alguma coisa estranha que não permite que ela nos toque de verdade. E nos transforme, nos modele. Esta busca esquisa pelo não-real espanta a vida e não conclui. Eu adoro a experiência em sí. Seu resultado, visto e avaliado com os olhos abertos. Observo.

      Bjs

      Fy

      Comment by Fy — 09/03/2010 @ 2:27 AM

  12. Todos colocaram fatores relevantes e inserindo um pouco de sociologia, psicologia e até antropologia podemos apontar onde mora o perigo, e justamente ‘onde’ a ‘humanidade’ se apresenta suscetível a sistemas artificiais e corrompidos:

    A representação da realidade, de fato, repousa na capacidade da pessoa atribuir valores à realidade, isso é o mesmo que construir uma concepção ontológica individual do real. Segundo o filósofo Nicolai Hartmann, existiriam quatro categorias de valores possíveis de atribuir-se à realidade no sentido de construir-se uma representação pessoal da existência. Seriam os valores materiais, vitais, anímicos e espirituais. Cada uma dessas categorias necessitaria da anterior para existir e cada uma delas procura se emancipar da anterior.
    Para estudarmos as Alterações da Representação, como propõe esse capítulo, teríamos que avaliar as eventuais alterações nessas quatro categorias de valorização do real. Sendo quatro as categorias e, portanto, quatro possibilidades de variação, sendo que dentro de cada uma dessas quatro categorias existem mais uma variedade de possíveis alterações, não é fácil (nem lícito) simplesmente listar uma série de condições psicopatológicas onde haveriam as tais Alterações da Representação. Temos que pensar em cada uma delas separadamente e, num segundo momento, procurar elaborar uma idéia que integrasse todas as inúmeras variáveis na maneira de valorizarmos o real. Como se vê, trata-se de algo muito complexo.

    A percepção, como vimos, tem sido considerada como a base da cognição e deve ser verídica e pessoal. É um dos requisitos mais elementares para percebermos o mundo e conseguirmos um ajustamento realista à ele.
    Este ajustamento realista exige mais do que o reflexo fisiológico dos equipamentos sensoriais; exige satisfazer nossas necessidades, encontrar alguma segurança, explorar as oportunidades para o crescimento e, conseqüentemente, encontrar um sentido satisfatório para a nossa existência.
    O conjunto de elementos capazes de nos fazer perceber o mundo de acordo com nossa aptidão pessoal capacita-nos à uma visão mais diferenciada da realidade, oferece uma percepção que ultrapassa àquela simplesmente oferecida pelos órgãos dos sentidos.
    Representação, Apercepção e Procepção
    Portanto, a representação da realidade, daqui em diante chamada apenas de REPRESENTAÇÃO, transcende significativamente a simples percepção do mundo; é aquilo que o mundo passa a representar para a pessoa depois de nela introjetado ou por ela apreendido. Desta forma, enquanto o caráter da SENSOPERCEPÇÃO é melhor entendido predominantemente a nível do fisiologismo neuro-sensorial, através dos cinco sentidos, a REPRESENTAÇÃO reporta-se predominantemente à subjetividade da realidade, e é revestida de uma tonalidade afetiva particular do indivíduo, portanto, a nível afetivo-psicológico. Uma simples rosa pode ser percebida fisiologicamente através da visão, tato ou olfato, porém, será ricamente representada através do subjetivismo da pessoa. Pode até ser dispensável, nesta representação, a presença física do objeto rosa. Da mesma forma, a palavra mãe, por exemplo, que pode ser percebida pela visão, se for escrita ou pela audição, se for falada, terá sua representação interna tocada pela afetividade e jamais será igual entre as pessoas.
    O texto de Jung é bastante explicativo: “parece que o consciente flui em torrentes para dentro de nós, vindo de fora sob a forma de percepções sensoriais. Nós vemos, ouvimos, apalpamos e cheiramos o mundo, e assim temos consciência do mundo. Estas percepções sensoriais nos dizem que algo existe fora de nós, mas elas não dizem o que isso seja em si. Esta é tarefa não do processo perceptivo, mas do processo de APERCEPÇÃO. Este último tem uma estrutura altamente complexa. Não que as percepções sensoriais sejam algo simples, mas a sua natureza é menos psíquica do que fisiológica. A complexidade da apercepção, pelo contrário, é psíquica”.
    Portanto, Jung identifica a REPRESENTAÇÃO da qual falamos, com a APERCEPÇÃO, algo responsável pela significação da coisa ou do que é a coisa em si. Neste caso, se a essência das coisas é determinada mais pelo pensamento e emoção que pela percepção neurológica, esta (a essência das coisas) será sempre pessoal e individual, então o significado essencial das coisas será igualmente pessoal e individual.
    Allport é outro autor preocupado com a questão da representação do mundo. Para ele, o que Jung chama de APERCEPÇÃO é tratado com o nome de PROCEPÇÃO: mais um sinônimo para REPRESENTAÇÃO interna. Diz-nos, Allport, que “existir como pessoa significa ultrapassar o verídico e o cultural, bem como desenvolver a própria visão do mundo. Em cada momento cada um de nós realiza, à sua maneira, a sua transação entre o Ego o mundo. Seria impossível enumerar todos os amplos tipos de orientação proceptiva que servem para distinguir os homens entre si. Uns têm uma mentalidade dominante para o passado, outros para o presente e alguns para o futuro. Para alguns o mundo é um lugar hostil, os homens são maus e perigosos; para outros é um palco para folias e brincadeiras”.
    Mesmos fatos, mesmas situações e mesmos acontecimentos podem ser experimentados por um número infindável de pessoas e representados por infindáveis maneiras. A guerra, por exemplo, onde participam milhares de pessoas, pode representar uma coisa diferente para cada um; embora seja traumática para a expressiva maioria das pessoas que dela participa, será mais traumática para os que neurotizam, demasiadamente traumática para os que psicotizam, apenas desagradável para alguns, e até boa para os vencedores e para os fanáticos, e assim por diante… Enfim, cada personalidade apercebeu-se da guerra de uma maneira completamente diferente.
    Perceber a realidade exatamente como ela é tem sido uma tarefa totalmente impossível para o ser humano. Nós nos aproximamos variavelmente da realidade, de acordo com nossas paixões, nossos interesses, nossas crenças, nosso acervo cultural, etc. Algumas atitudes mentais favorecem um contacto mais íntimo com a realidade, outras afastam deste contacto. Será muito difícil para uma pessoa perdidamente apaixonada, elaborar um correto julgamento acerca da personalidade de quem ama. Normalmente, nestes casos, a força da paixão turva a avaliação do objeto amado. Da mesma forma, a realidade que um botânico experimenta diante de uma orquídea certamente será diferente da realidade experimentada pelo poeta diante da mesma orquídea. A realidade do indígena é plena de determinados deuses ausentes na nossa, assim como nossos micróbios não participam da realidade deles e assim por diante.
    Embora a representação do real seja particular em cada um de nós, como dissemos, esta compreensão do mundo objectual percebido e introjetado deve ser organizada segundo as regras comuns de um mesmo sistema cultural e, desta forma, tornar possível a convivência e a comunicação entre as pessoas de uma mesma cultura. Este sistema sócio-cultural que reconhece o direito da APERCEPÇÃO (ou PROCEPÇÃO, ou REPRESENTAÇÃO) particular de cada um de nós, também estabelece uma determinada faixa de compatibilização entre os indivíduos, onde as diversas maneiras de experimentar e sentir o mundo não comprometam a viabilidade da vida gregária. A esta faixa de congruência sugerimos chamar de CONCORDÂNCIA CULTURAL. Ou seja, um conjunto de valores, normas e modelos capazes de definir um determinado grupo cultuOu seja, um conjunto de valores, normas e modelos capazes de definir um determinado grupo cultural e identificar os indivíduos de um mesmo sistema mediante um contacto mais ou menos consensual com certos aspectos da realidade.
    Assim sendo, as infinitas variações pessoais na representação da realidade devem, apesar de infinitas, manter-se dentro da concordância cultural para serem consideradas normais. Seria como a infinita variação das impressões digitais. Mesmo diante da infindável variedade entre todas impressões digitais, há alguma concordância entre elas. No momento em que nos defrontamos com impressões digitais formadas por linhas retas e paralelas, ou regularmente quadradas e concêntricas, certamente estaremos diante de impressões digitais anormais.
    Bandler afirma haver uma irredutível diferença entre o mundo e a nossa experiência sobre o mesmo. O pensamento, em seu desenvolvimento espontâneo, tem uma necessidade imperiosa de emancipar-se da realidade dos fatos apresentados pelos nossos sentidos. Seria este, o mais importante e brilhante mecanismo responsável por nossa capacidade de abstração e de criação. Sem ele, a espontaneidade e a liberdade estariam irremediavelmente comprometidas. Existir como pessoa significa ultrapassar o verídico e o cultural, desenvolver uma concepção interior do mundo com características próprias, porém, mantendo-se sempre razoavelmente ligado à uma realidade recomendada pela concordância cultural. Como diz o ditado, “a aventura pode ser louca, o aventureiro, porém, necessariamente dever ser lúcido”.
    A capacidade da pessoa ser ela mesma está em seu esforço (e em seu sucesso) em compatibilizar o seu mundo interior com a realidade externa, controlar seu mundo de forma a viver nele dominando-o de maneira realística. Existe uma parcela de nossa consciência que é emancipada da objetividade exclusiva dos fatos e do mundo dos sentidos, uma parte que nos torna únicos na maneira de ser e sentir o mundo. Existe também, uma outra parcela da consciência que nos identifica a todos como membros de um mesmo sistema sócio-cultural, compatível com uma concordância coletiva e consensual. Allport facilita esta situação ao sugerir a PROCEPÇÃO INDIVIDUAL e a PROCEPÇÃO CULTURAL. Esta última, representa o depositário das respostas culturalmente atreladas em nossa personalidade, respostas culturais a determinados fatos vividos. A poligamia, por exemplo, é diferentemente representada pela cultura cristã ocidental e pela cultura islâmica oriental.
    Resumindo, podemos dizer que todo ser humano tem uma maneira peculiar e muito pessoal de representar a sua realidade, e faz isso com um arbítrio suficiente para libertá-lo do estreito mundo dos sentidos. Por causa disso ele é capaz de criar, abstrair, pensar além do real e sonhar. Entretanto, mesmo diante desta diversidade representativa, mesmo respeitando sua liberdade ao irreal, está o indivíduo atrelado à concordância cultural de seu meio e, esta, funcionando como uma faixa de tolerância onde deverão situar-se as infindáveis maneiras de representar a realidade.

    Me parece que este post gerou comentários-posts.

    Mas dentro do mecanismo acima é que se infiltram e se infiltraram correntes culturais que podem destroçar, como já o fizeram, tudo aquilo de humano que poderia ter se desenvolvido de uma forma natural e humana sempre e progressivamente; não desumanizando a criatura humana que somos.

    A desumanização inevitavelmente constrói estados artificiais, que por sua vez passam a constituir grupos artificiais ao agregar conjuntos de seres que partilham uma mesma percepção ou estado de ser. Exemplificando através de conceitos ‘criados’ e ‘introduzidos’ que ‘alteram’ o sistema ‘natural’ de percepção que deveria ser a única estrutura ou ponto de partida pra o processo de evolutivo de nossa raça:

    ‘Finalmente, como estado afetivo complexo capaz de interferir na REPRESENTAÇÃO da realidade, temos a angústia, apanágio do homem como espírito.

    Esta decorre da consciência que o homem adquire de sua liberdade, ao passar da inocência à culpa, segundo o existencialismo. A liberdade e a possibilidade geram a angústia existencial, pelo que não é mas poderia ser, colocando-se o futuro como realidade ameaçadora.(este parágrafo EXIGE especial atenção)

    Embora não seja de todo necessário aqui distinguir, fenomenologicamente, a angústia, o medo e a ansiedade, podemos refletir brevemente sobre isso.

    Diferenciar o medo da angústia é tarefa relativamente fácil.

    O medo normal tem sempre um motivo conhecido e um objeto consciente, reais e plausíveis, o que não sucede na angústia, que surge sem motivo justificável e sem conteúdo objetivo.

    Na ansiedade há mais um sentimento de previsão ou antecipação de um perigo imaginário e desconhecido.

    Entretanto, as manifestações somáticas do medo, da ansiedade e da angústia são, na verdade, aparentemente semelhantes.

    Recorrendo à estratificação das categorias de avaliar-se a realidade vistas no início desse capítulo, podemos deduzir que o medo é um estado afetivo que se origina nas camadas dos chamados sentimentos sensoriais e dos sentimentos anímicos, é uma emoção primária (ver acima) e além disso, é suscitado pela presença de uma situação ameaçadora real, que ponha em risco imediato ou mediato a integridade física ou moral do indivíduo, como dissemos. O medo é um fenômeno psíquico, diretamente vinculado ao instinto de conservação individual e, portanto, pertencente tanto ao homem como aos animais.

    A ansiedade patológica é sempre um medo mórbido e que se origina, sem motivação conhecida, na esfera dos sentimentos vitais.

    A angústia existencial, propriamente dita, emana da esfera dos sentimentos espirituais (ver categorias de avaliar-se a realidade) e é, por isso, específica e exclusiva do ser humano.

    Os animais são suscetíveis de medo e de ansiedade, mas não de angústia existencial, a qual pressupõe a consciência de estar-no-mundo, de existir no tempo, de ser-para-a-morte.’

    A ‘consciência’ destes tres estados, naturalmente inerente ao Homem é o fator MANIPULÁVEL e suscetível à diversas apropriações da Liberdade e gera consequentemente as diversas manifestações de Poder.

    tio Gus

    Abraços

    Comment by Gustavo — 07/03/2010 @ 4:05 AM

    • Great Gus!
      You bet!

      The sameholyshit: medo! Na batalha pela nossa mente o Medo sempre foi a melhor arma.

      Peguei um trecho do Joe Black:

      …. Jung também fala do arquétipo “Self”. Segundo ele, deveria este ser, a meta da vida de cada ser humano.

      Self, segundo Jung é a combinação daquilo que chamamos de nossa individualidade integral.

      Viver uma “vida de santidade” é ter consciência da nossa qualidade psíquica, inconsciente, irredutível e inescapável, experienciada por cada um de nós.

      Não temos como fugir! A vida se constitui em antagonismos! Sempre!

      Aquele que tem a utopia de exorcisar de si um destes sequer, deve exorcisar tudo, ou seja, dar cabo de sua própria vida.

      Com o que é, não se luta, se aceita. “Vida de santidade” é vida diversificada.

      Ser santo é ser persona, ser sombra, ser Animus e Anima e ser Self.

      Ser santo é conviver com a configuração enigmática e pluralizada da máquina humana.

      Pelo fato de não compreendermos essa complexidade da máquina humana, temos a tendência de utilizar a ferramenta “vida de santidade” para um discurso de forte enquadramento, incentivando os outros a se encaixar numa vida utópica, como uma vida de receita de bolo.

      Faça isso porque essa é a “vontade de Deus”. Daí o ouvinte tenta e queima o bolo, é punido, entrando assim em crise neurótica.

      “Os seres humanos foram criados para serem punidos” dizia Nietzsche.

      Comete-se um pecado, faz-se um sacrifício ou uma penitência pra purificação, mas a certeza de novamente errarmos no futuro não pode ser tirada, sobra-se então, sempre a dialética da culpa/punição.

      Entendemos que no século V a.C. é construído pela cúpula sacerdotal do Templo de Jerusalém a idéia mitológica de pecado original para manipular a massa camponesa daquela época.

      Somos vítimas ainda dessa ferramenta de controle de massa chamada “pecado”.

      Alegaram que somos seres maus, a carne é má e tudo aqui em baixo é ruim e só lá em cima que é tudo muito bom.

      Convencionou-se dessa forma então: Só Deus é forte e bom, sendo o homem fraco, sujo e pecaminoso.

      Nietzsche dizia que ”o santo no qual Deus sente prazer é um castrado ideal”.

      A castração advém do medo que é um sentimento hereditário, aliás, o medo explica tudo, inclusive o dogma “pecado original”.

      Michel Foucault disse que a escola utiliza a disciplina para vigiar e punir o aluno.

      O aluno permanece um objeto dos destinos prisão e punição.

      Ideologicamente aprisionamos os outros com discursos divinos exossomático que na maioria das vezes, nada tem a haver com a realidade.

      Na língua grega Ek = sair; de dentro para fora. Soma = totalidade do corpo.

      Exossomático porque usamos o nome de Deus como uma extensão daquilo que o nosso corpo não pode fazer para adestrar o outro.

      Nossos juízos de valor e as nossas teorias do bem e do mal são meios de funcionalidade de poder.

      Bjs

      Fy

      Comment by Fy — 07/03/2010 @ 5:41 PM

      • in time:

        Ser santo é ser persona, ser sombra, ser Animus e Anima e ser Self.

        oops…. esqueci Mr. Ego!

        Fy, me, my self, my ego and all anotherings I can !

        Bjs

        Comment by Fy — 08/03/2010 @ 4:42 AM

  13. Broooother Gus,

    Chapou.e é por aí.

    “ Quem, se eu gritasse, me ouviria dentre as ordensdos anjos?

    e mesmo que um me apertasse de repente contra o coração:

    eu morreria da sua existência mais forte.

    Pois o “belo” não é senão o começo do terrível, que nós ainda mal podemos suportar, e admiramo-lo tanto porque, impassível, desdenha destruir-nos.

    Todo o anjo é terrível.”

    Rainer Maria Rilke (1875-1926),
    Áustria
    in As Elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu

    FORA O AUTISMO.

    FORA A DITADURA.
    André

    Outro dia eu lí este trecho que colei aê abaixo lá na sempre Alice Valente e acho que ele transa bem o comentário do André, porque Anjos nos espreitam por toda a parte e como nossa tendência ao ovelhismo é vergonhosa, é relevante colocá-lo:

    Vida e morte, princípio e fim, dois pólos de uma quase antinomia são tópicos presentes na reflexão filosófica, desde que nos conhecemos como seres pensantes. Heidegger no «Ser e tempo» mostra bem como a projecção para o futuro é a dimensão mais própria do homem.

    (…) A ciência e a tecnologia conferiram ao debate ético sobre a vida e a morte uma pungente realidade, geraram dilemas concretos que exigem uma solução ou pelo menos a procura de uma argumentação iluminada que aponte uma escolha.

    (…) Como Cassel já apontou, a tecnologia tem características singulares, é redutora, simplificadora, intolerante da ambiguidade e confere poder.

    (…) O princípio da moralidade é: “obediência”, o nome da ação: “a caridade”, a expressão da moralidade o “respeito a Deus e à criação”, e os valores: a “salvação e a resignação”.

    (…) Boa ciência gera boa ética e uma ética ambígua será irremediavelmente estéril.

    A virtude de uma sociedade aberta é obrigar que a investigação em áreas de fronteira – que contém a promessa de uma contribuição importante para o conhecimento fundamental e aplicado – “seja feito sob o escrutínio vigilante de uma sociedade plural e informada.”

    JEAN-PIERRE DUPUY – “A tentação do orgulho” (excerto)

    Diante da Catástrofe

    (…) A humanidade está contra a parede.(…)

    (…) OU BEM A PARTE PRIVILEGIADA DO PLANETA SE ISOLA, o que quererá dizer mais e mais que ela se protegerá com escudos de todos os tipos contra as agressões que o ressentimento dos abandonados à sua sorte conceberá cada vez mais cruéis e mais abomináveis; OU BEM SE INVENTA UM OUTRO MODO DE RELAÇÃO COM O MUNDO, com a natureza, com as coisas e com os seres, que terá a propriedade de poder ser universalizado à escala da humanidade.

    O problema político maior tornou-se a sobrevivência da humanidade. No imaginário político dos países do centro, a catástrofe a evitar tende a substituir a revolução a realizar.(…)

    (…) A política moderna substituiu a Natureza pela vontade humana.

    Não causa espanto que o império da técnica, tenha feito desaparecer a ideia tradicional de natureza como exterior ao mundo humano.

    Nada pode ilustrar melhor isto do que a obsolescência da noção de catástrofes naturais. (…)

    O Mal como “Sobre-Natureza”

    Na minha «Petite métaphysique des tsunamis», eu retomo a interpretação que Hannah Arendt deu de Auschwitz(13), bem como sobre a que Günther Anders deu de Hiroshima(14).

    Arendt, Anders e Hans Jonas, três filósofos judeus alemães que foram alunos do nazi Heidegger, deixaram-nos reflexões tocantes e controversas sobre aquilo que Kant chamava o mal radical.

    Não posso resumir aqui análises extremamente sutis e, na maior parte das vezes, mal compreendidas. Limitar-me-ei a isto.

    Com Rousseau, e sobretudo com Kant, se coloca uma separação radical entre o mundo da natureza, sem intenções nem razões, habitado unicamente por causas, e o mundo da liberdade, onde as razões para agir recaem no âmbito da lei moral. É esta separação que, por sua vez, se estilhaça com os horrores morais produzidos no século passado.

    (…) Arendt e Anders, os dois, puseram em evidência a estrutura do mal moderno.

    O escândalo, que não parou de subverter as categorias que nos servem ainda para julgar o mundo, é que um mal imenso possa hoje em dia ser causado por uma completa ausência de malignidade; que uma responsabilidade monstruosa possa fazer par com uma total ausência de más intenções.

    Três anos antes do processo Eichmann, Arendt escrevia na sua Human Condition: «seria possível que, criaturas terrestres que começamos a agir como habitantes do universo, não sejamos nunca mais capazes de compreender, ou seja, de pensar e de exprimir as coisas que entretanto somos capazes de fazer. […]

    Se se confirmasse que o saber (no sentido moderno de saber-fazer) e o pensamento se separaram realmente, nós seriamos então joguetes e escravos, não tanto das nossas máquinas quanto dos nossos conhecimentos práticos, criaturas sem cérebro à mercê de todos os engenhos tecnicamente possíveis, mesmo que mortíferos.(15)»

    Quanto a Günther Anders, ao regressar de Hiroshima em 1958 escrevia: «O carácter inverosímil da situação é de tirar o fôlego. No mesmo instante em que o mundo se torna apocalíptico, e isto por culpa nossa, ele oferece a imagem… de um paraíso habitado por assassinos sem maldade e por vítimas sem ódio.

    Em nenhuma parte há traços de maldade, não há senão escombros.

    » E Anders anuncia: «a guerra por tele-assassinato que aí vem será a guerra mais despojada de ódio que jamais tenha existido na história. […] esta ausência de ódio será a ausência de ódio mais inumana que alguma vez já tenha existido; ausência de ódio e ausência de escrúpulos serão uma só.»

    Contemplamos um quebra-cabeças espantoso.

    Com Rousseau o mal é inteiramente moral, é um assunto nosso. Com Hannah Arendt e Günther Anders o mal é como que uma sobre-natureza, ele nos transcende.

    Precisamos sair deste paradoxo.

    Temos então, como sempre tivemos, aliás se considerarmos todos os horrores indescritíveis tão bem expostos no post,quantas montruosidades e deturpações em nome de Purezas e de Inocências degenaradas foram cometidas.

    “Pois o “belo” não é senão o começo do terrível, que nós ainda mal podemos suportar, e admiramo-lo tanto porque, impassível, desdenha destruir-nos.

    Todo o anjo é terrível.”

    “Esses males físicos da pureza ainda não são nada se comparados aos crimes inumeráveis que sua idéia obsessiva provocou na história.

    todas essas aberrações desembocam em massacres e infelicidades inumeráveis.”

    Anjos são aberrações, sejam os tradicionais “elfos” judaico-cristãos e etc, sejam as massas de homens despersonalizados e indiferentes à sua vontade e à vida operacionalizados pelos sistemas de poder ou pela má ciência ou tecnologia.

    Abraço aê e um beijo no Frio, bem vindo Frio.

    TocaYo

    Comment by TocaYo — 07/03/2010 @ 6:24 AM

    • “Pois o “belo” não é senão o começo do terrível, que nós ainda mal podemos suportar, e admiramo-lo tanto porque, impassível, desdenha destruir-nos.

      A DANÇA DA PSIQUE ( AUGUSTO DOS ANJOS )

      A dança dos encéfalos acesos
      Começa. A carne é fogo. A alma arde. A espaços
      As cabeças, as mãos, os pés e os braços
      Tombam, cedendo à ação de ignotos pesos!

      E então que a vaga dos instintos presos
      – Mãe de esterilidades e cansaços –
      Atira os pensamentos mais devassos

      Bjs
      Fy

      Comment by Fy — 07/03/2010 @ 6:03 PM

  14. Fy,

    Não dá pra não tirar o chapéu.

    Vamo lá sister, se os fiéis seguidores deste cara que é o mais foda entre todos os furiosos que eu admiro,te acharam ‘polêmica’ quaquaqua ahauahauhauh…. devem estar meio tontos… , olha o strike do cara:(mais um…)

    “O mundo fenomênico não existe; ele é uma hipóstase das informações processadas pela Mente.” (Philip K. Dick)

    Publicado por Lúcio Manfredi em 02/03/2010

    a lápide do Dick e…. comentários…. – auahauahauahau: não tem nenhum ahuahauahauahau desde o dia 2 de fevereiro !!!!!!

    http://epistemonikephantasia.wordpress.com/

    Bj
    TocaYo

    Comment by TocaYo — 07/03/2010 @ 6:40 AM

    • Mto bom, TocaYo,

      mas… dá uma olhada nos fevereiros e nos marços aê!

      Vamos ver as respostas!

      Bjs

      Comment by Fy — 07/03/2010 @ 4:24 PM

  15. ao tio Gus

    Excelente comentário.
    da ansiedade:

    Com certeza, até por uma questão biológica, podemos dizer que a Ansiedade sempre esteve presente na jornada humana, desde a caverna até a nave espacial. A novidade é que só agora estamos dando atenção à quantidade, tipos e efeitos dessa Ansiedade sobre o organismo e sobre o psiquismo humanos.

    Nosso potencial ansioso sempre se manteve fisiologicamente presente e sempre carregando consigo o sentimento do medo, sua sombra inseparável. É muito difícil dizer se era diferente o estresse (esta revolução orgânica e psíquica) que acometia o homem das cavernas diante de um urso invasor de sua morada, daquilo que sente hoje um cidadão comum diante do assaltante que invade seu lar. Provavelmente não.
    Faz parte da natureza humana certos sentimentos determinados pelo perigo, pela ameaça, pelo desconhecido e pela perspectiva de sofrimento.
    A Ansiedade passou a ser objeto de distúrbios quando o ser humano colocou-a não a serviço de sua sobrevivência, como fazia antes, mas a serviço de sua existência, com o amplo leque de circunstâncias quantitativas e qualitativas desta existência.
    Assim, o estresse passou a ser o representante emocional da Ansiedade, a correspondência psíquica de toda movimentação que o estresse causa na pessoa. O fato de um evento ser percebido como estressante não depende apenas da natureza do mesmo, como acontece no mundo animal, mas do significado atribuído à este evento pela pessoa, através de seus recursos, de suas defesas, e demais fatores influenciados pelo seu aculturamento,e de seus mecanismos de enfrentamento.Conforme ainda não estejam destruídos por este aculturamento.

    Marianne

    Comment by Marianne — 07/03/2010 @ 7:16 AM

  16. Bom Dia a todos,e uma boa semana também,

    Em minha humilde forma de ver,esta busca pela Pureza ou Desintegração do ‘Eu’ são estados artificiais,adormecem o espírito, amortecem a razão,o que faz parar a evolução.

    Moralismos e preconceitos à parte, existem diversas posturas filosóficas, religiosas, e até pseudo-medicinais que estimulam esta busca por um estado de purificação não só física como mental. A busca pela estratificação da individualidade, comum a certas ideologias, tanto políticas como até mesmo pseudo-terapeuticas incorre seriamente em um perigo conhecido,psiquiatricamente falando, como Perturbação de Despersonalização.

    Esta busca insistente por um estado alterado de consciência,ou de se ter consciência,ou de não se ter consciência, esta busca pela anulação do fator personalidade ou individualidade em busca de frações pretensamente definidas porém não identificáveis na mente ou ‘essência’ do indivíduo,acabam por produzir esta perturbação.

    A perturbação de despersonalização caracteriza-se por sentimentos persistentes ou recorrentes de estar separado do próprio corpo e dos seus processos mentais.

    Uma pessoa com uma perturbação de despersonalização sente-se como se fosse um observador da sua própria vida. Pode sentir-se ela mesma e sentir o mundo como irreais e num sonho.
    A despersonalização pode ser um sintoma de outras perturbações psiquiátricas.
    A despersonalização é o terceiro sintoma psiquiátrico mais freqüente (depois da ansiedade e da depressão)

    Na despersonalização, o córtex pré-frontal responsável pelas emoções é fortemente ativado fazendo com que o sistema límbico também relacionado com emoções de forma a coordenar as mesmas seja desativado resultando em sentimentos de apatia e irrealidade. Apesar da pessoa sentir que está fora de seu próprio corpo,sabe que tais sensações são conscientes e ainda que a consciência age dessa forma para buscar controlar os agentes externos.

    A pessoa com despersonalização tem uma percepção distorcida da sua identidade, do seu corpo e da vida, o que a incomoda. Muitas vezes, os sintomas são temporários e aparecem ao mesmo tempo em que os sintomas de ansiedade, de pânico ou de medo (fobia). No entanto, os sintomas podem durar ou reaparecer durante muitos anos. As pessoas com esta perturbação têm,com frequência,uma grande dificuldade para descrever os seus sintomas e podem temer ou crer que estão a transtornar-se mentalmente.

    Sintomas
    Uma pessoa com despersonalização provavelmente descreveria sua vida como “parecida com um filme, irreal e confusa”. O que se sente é que,em algum momento da vida,a pessoa mudou de um modo literalmente “estranho”,e o mundo começa a se tornar um lugar surreal,vago,e muitas vezes com falta de significados e sentimentos, se confundindo com um sonho. A pessoa não consegue mais sentir a sua identidade,tendo grande mudança na percepção física,temporal e visual,muitas vezes olhando no espelho e não reconhecendo seu rosto, apesar de ter plena consciência lógica de sua identidade,vindo daí o nome.

    Mesmo com a vida parecendo um sonho ou filme,o ‘despersonalizado’ não perde a sua capacidade de diferenciar o que é real do que é irreal (com excessão dos que apresentam esquizofrenia severa). Não importa o quanto a pessoa tente,ela sente que não consegue verdadeiramente interagir com o mundo e não consegue mais entrar em seu estado “normal”.

    Outros sintomas comumente descritos são a fotossensibilidade (sentir-se ofuscado e incomodado por luz) e uma repentina sensação de estar “viajando” por fora do próprio corpo, até mesmo enxergando-se de fora dele, tendo o seu centro de visão e percepção alterados. Apesar de parecer divertido,quem passa pela experiência – geralmente – não tem essa opinião: é como estar preso entre o mundo real e a morte – permanentemente. Pelo que já foi previamente descrito, não é difícil imaginar que a atenção pode tornar-se um problema realmente preocupante para a pessoa.

    Pessoas não-despersonalizadas poderiam entender melhor um dos prismas da experiência de estar despersonalizado pela técnica de fotografia chamada “vertigo shot” ou “Dolly Zoom”.Nessa técnica,o objeto central da foto permanece inalterado,enquanto a paisagem ao redor é distorcida,dando uma sensação de vertigem,vazio e separação.

    Esquizofrenia
    Mesmo não sendo uma ilusão em si, se for relatada em conjunto com alguma ilusão séria, despersonalização pode ser um sinal de esquizofrenia, contribuindo para a desintegração da personalidade do esquizofrênico.

    Fatores Agravantes e Fatores Atenuantes
    Algumas situações são conhecidas por acentuar e/ou abrandar – em sua maioria, apenas momentaneamente – o estado despersonalizado:

    Agravantes:
    • Uso de drogas (lícitas ou ilícitas);
    • Multidões;
    • Dor física;
    • Falta de Sono;
    • Dormir demais;
    • Acordar de um cochilo;
    • Auto-mutilação;
    • Olhar-se no espelho;
    • Lembrar-se de sua condição de despersonalizado;
    • Encontrar-se em uma situação de perigo;

    Casos Graves
    Alguém sofrendo de despersonalização severa pode ser especialmente suscetível ao suicídio,realizando o processo de forma calma e tranquila,sem ter real consciência do que faz. Se o problema relacionado com a despersonalização for tratado,a despersonalização severa,assim como em qualquer outro dos seus graus,pode ter seus sintomas reduzidos e até mesmo anulados.

    Despersonalização Artificial
    Tenente Col. Dave Grossman,no seu livro “On Killing”,sugere que o treinamento militar induz a uma despersonalização artificial nos soldados,anulando suas emoções e sendo assim mais fácil para os soldados matarem outros seres humanos.

    Religião
    A religião tem grande poder de alienação, devido a algumas “verdades” que a ciência não pode dar,contrapondo o raciocínio cientifico. Já nos meios de comunicação de massa em relação à alienação é evidente a manipulação dos indivíduos, causada pela indústria cultural e religiosa.
    A alienação não trata-se de um conceito setorial de ciência social, como a exploração; é uma categoria global de antropologia histórica, menos esclarecida do que interpretativa mas,por isso mesmo,extensamente crítica,filosófica e essencial para compreender a trajetória da humanidade.

    Des-personalização ou perda da própria personalidade, apesar de se tratar de uma proposta claramente embutida em diversas ideologias, convém lembrar que se trata de uma busca por um estado alterado que conduz a um quadro de perturbação mental claramente descrito por Dostoiévski.

    Abraços
    Vítor

    Comment by Vítor — 09/03/2010 @ 1:22 AM

  17. Gostaria de adicionar meus sinceros parabéns a todos os comentaristas além de contribuir com este pitaco da velha Medicina,e lembrar que apesar de velha e muitas vezes rabugenta,lerda e sem dúvida mercenária,também procura por respostas.
    E como médico,profissão que nos conecta com a brevidade da vida constantemente,gostaria de salientar a importância de nos sentirmos amplamente integrados a ela.Ao verdadeiro e natural.”Aquilo que verdadeiramente embuído de sua inerente simplicidade e realidade nos toca os sentidos,fisiológica e mentalmente falando.Cada momento que vivemos está carregado de sensações que apreendemos através de nossa sensibilidade sensorial e que interpretamos através de nossa capacidade psíquica.Todos são irremediavelmente preciosos quando nos aproximamos do final desta jornada. Por conviver com isto diariamente,recomendo,sinceramente o exercício do amor pela vida. Viver integralmente.Intensamente. Saborear o gosto de uma laranja,os prazeres do corpo,usar os sentidos explorando-os ao máximo,sentir o amor em toda sua extensão física e espiritual,libertar-se de pesos ou culpas ou buscas sem sentido.Construir ideais,acreditar em si e nos mesmos.Nenhuma crença alienante substitui o calor do sol.Nem mesmo seu valor terapeutico sobre o corpo nu(com moderação,óbviamente)Lá,na reta de chegada todos saberemos os reais valores daquilo que vivemos ou deixamos de viver.
    Abraços
    Vítor

    Comment by Vítor — 09/03/2010 @ 2:07 AM

    • Hi Doctor!

      Fico feliz qdo vc encontra um tempinho pra nós aqui.

      Super obrigado por mais esta contribuição.

      Lindo lindo seu conselho.

      Eu – não sei – mas me lembrei disto – q pra mim é uma homenagem à Vida:

      E como seria bom se as pessoas percebessem a morte como um processo natural que nada mais faz além de salientar a importância da Vida, em todoa sua extensão.

      Repito: como diz a Emília do Lobato: depois…. é que encontramos as hipóteses… ou a hipótese. Aqui, o espetáculo é real: e nos convida.

      Bjs

      Fy

      Comment by Fy — 09/03/2010 @ 2:35 AM

  18. êeeeeeepa, coitado do Míchkin, se bem que eu preferia a epilepsia.

    Voces podem não gostar de anjos, já eu fico com a primeira Anjinha cheia de teia de aranha. Tadinha, cheia de Michikin, pode crer!

    Moçada, isto aqui cresceu. Não para de crescer. Nada a acrescentar, só saudade de todos.To viajando sim nos comentários. E lembrando que vôos existem e nem sempre com asas de anjos, olha só:

    ô dó ::::::: do Michikin!!!! ainda bem que ele não virou papa-criancinha…. um a menos…. goooooood

    Beijos aê
    Dennis F. Angel

    a Fallen Angel is an angel who has been exiled or banished from Heaven. e caiu aqui…. neste planetinha malandro e azul!

    Comment by Dennis — 09/03/2010 @ 5:18 AM

  19. Hauahauahauahau

    fevereiros.marços.e respostas.

    tó procê:

    “Desde a idade de seis anos eu tinha mani de desenhar a forma dos objetos.

    Por volta dos cinquenta havia publicado uma infinidade de desenhos, mas tudo o que produzi antes dos sessenta não deve ser levado em conta.

    Aos setenta e três compreendi mais ou menos a estrutura da verdadeira natureza, as plantas, as árvores, os pássadores, os peixes e os insetos.

    Em consequência, aos oitenta terei feito ainda mais progresso.

    Aos noventa penetrararei no mistério das coisas;

    aos cem, terei decididamente chegado a um grau de maravilhamento –

    e quando eu tiver cento e dez anos, para mim, seja um ponto ou uma linha, tudo será VIVO”
    (Katsuhika Hokusai, sécs. 18-19)

    Beijo
    TocaYo

    Comment by TocaYo — 09/03/2010 @ 5:33 AM

  20. Êhehê Brother…..

    Este lance de michikin aê = é só pra ler, irmão.

    Que que é isso de : eu tinha “mani” de desenhar

    Que que é “tinha mani” ????????

    ô véio: te acudo, xacomigo: é “tinha mania” mani-A. !

    De nada… de nada…, amigo é pra estas coisas.

    auhauhauhauhau

    Dennis F.Angel

    Comment by Dennis — 09/03/2010 @ 5:40 AM

  21. Oi pessoas,

    Tocaio: tô sem chapéu pra todo mundo. Que aula……..

    Bizarrices angelicais…. bem gloomy monday:

    My eyes are black and wide
    My eyes are black and wide
    Hey ho the noddy oh
    My eyes are black and wide

    I crush the velvet mound
    I crush the velvet mound
    Hey ho the noddy oh
    I crush the velvet mound

    Mommy’s teeth are cracked
    Mommy’s smile is cracked
    Hey ho the noody oh
    Mommy’s smile is red

    A-reaping I shall go
    A-reaping I shall go
    Hey ho the noddy oh
    A-reaping I shall go

    A stranger waits me there
    A man with half-blind stare
    A man with dusty hair
    Hey ho the noddy oh
    A stranger waits me there

    This destiny did not tire
    This destiny did not tire
    Hey ho the noddy oh
    This destiny did not tire

    He sang:
    “A-raping I shall go
    A-raping I shall go
    Hey ho the noddy oh
    A-raping I shall go”

    And bled and raped was I
    And scared and cold was I
    Hey ho the noddy oh
    Hey ho the noddy oh
    Hey ho the noddy oh
    In fields of rape I lie

    Well as you sow you reap
    Well as I sowed I reaped
    Well as I sow I reap
    Hey ho the noddy oh
    Hey ho the noody oh
    Hey ho the noddy oh
    Well as I sowed I reaped

    bjitos
    saudades
    Juju

    Comment by Juliana — 09/03/2010 @ 8:32 AM

  22. […] neste post    em que Tournier  descreve perfeitamente a paranóia desta busca pela perfeição ou pureza anti humana , […]

    Pingback by Black Swan – Dark Swan « windmills by fy — 28/01/2011 @ 10:02 AM

  23. […]                                                                                                                                                  https://windmillsbyfy.wordpress.com/2010/02/25/des-significar-se/ […]

    Pingback by O massacre de Realengo – por Francisco Fuchs « windmills by fy — 10/04/2011 @ 10:27 AM

  24. Aw, this was a really nice post. Spending some time and actual effort to produce a really good article… but what can I say… I
    put things off a whole lot and never seem to get anything done.

    Comment by Megapolis Hack Tool — 10/09/2014 @ 8:28 PM


RSS feed for comments on this post. TrackBack URI

Leave a reply to Coringa Cancel reply