Nina , Odilla e Odete – … confesso que não gostei ,
e… nem de longe achei que tenha sido o melhor filme de Aronofski .
O Pablo fez uma excelente – excelente mesmo – análise aqui [ clique em Críticas ] –
mas eu , desta vez , preferi a Manohla Dargis no NY Times com seu : On Point, on Top , in Pain – :
– . . . “ Black Swan ” – by contrast , surprises despite its lusty or rather sluttish predilection for clichés ,
which include the requisitely demanding impresario [ Mr. Cassel makes a model cock of the walk ]
and Nina’s ballerina rival , Lily [ Mila Kunis , as a succulent , borderline rancid peach ] .
But , oh [!] , what Mr. Aronofsky does with those clichés , which he embraces , exploits and , by a squeak , finally transcends . –
. . . It’s easy to read “ Black Swan ” as a gloss on the artistic pursuit of the ideal .
But take another look, and you see that Mr. Aronofsky is simultaneously telling that story straight , playing with the suffering-artist stereotype
and having his nasty way with Nina , burdening her with trippy psychodrama
and letting her run wild in a sexcapade that will soon be in heavy rotation on the Web .
The screenplay , by Mark Heyman , Andrés Heinz and John McLaughlin , invites pop-psychological interpretations
about women who self-mutilate while striving for their perfect selves , a description that seems to fit Nina . –
Todo e qualquer comentário que eu possa fazer , já está bem descrito aqui no Wind ,
neste post em que Tournier descreve perfeitamente a paranóia desta busca pela perfeição ou pureza anti humana ,
que corróe o cérebro humano dos crentes incautos ou dos psicóticos e mal informados desintegradores de ego :
o príncipe Míchkin , devorado por uma piedade devastadora ,
revela-se incapaz de amar uma mulher ,
de resistir às agressões do mundo exterior e finalmente de viver .
Ele é fulminado pela epilepsia .
Dostoiévski , O Idiota – 1868-1869 –
Eu lamento algumas críticas que descrevem este thriller como uma representação da jornada de uma menina que está se tornando mulher .
É lamentável sim . . . , que meninas leiam isto e imaginem que esta transformação seja um ritual paranóico , carregado de pressões e dores esquizas .
Ou seja , transformar este processo tão lindo , natural e até comemorado em outras culturas em um pesadelo contorcido de dor e pânico à la Emily Rose do Derrickson .
Má leitura .
Quando assisti Black Swan de Aronofski – imediatamente me lembrei de Matthew Bourne e sua fantástica versão do Lago dos Cisnes ,
e , achei estranho , que em nenhuma crítica alguém tivesse feito esta ligação .
Para mim ficou óbvio que Aronofski se inspirou nesta peça [ brilhante ] ao criar a trama psicológica do seu filme.
Matthew apresenta seu Swan’s Lake dançado por bailarinOs , e ,
ao inverso de tantas… e tantas…. e precipitadas interpretações “ junguianas ” ,
esmaga o clichezinho clássico [ e … chato ] self-ego X individuação – deus , ressaltando antes , e com profunda importância
o significado do Instinto , da Libido, do Desejo , a parte “ animal ” > natural e intrinseca à nossa natureza … – [ sem parecer redundante … ahahah ] -.
Ele substitui os tutus “ brancos “ e tiaras imitando auréolas e os substitui por peitos nús , calças de penas até os joelhos ,
e marca as faces de seus “ cisnes ” em negrito numa franca alusão à nossa natureza híbrida – tão mal encaixada em conceitos fabricados sobre o Bem e o Mal .
Em seu Lago dos Cisnes , …. aliás …. numa tradução totalmente mais fiel à trama original …
retrata o simbolismo da Pureza ou Perfeição refletida no Cisne “ Branco ” através de uma extraordinária transformação estilística
em que os apresenta como animais Agressivos , Arrogantes ao invés de delicados …
– Intimidantes ao invés de sentimentais e etéreos … , como em outras performances deste clássico,
retratando -os assim : exatamente como o são , os castradores símbolos angelicais ou divinos da Pureza ou Perfeição .
Como tão bem ilustra o holandês Cees Nooteboom em seu : Os anjos caídos no paraíso perdido : “ anjos e seres humanos são incompatíveis ” ,
– e perseguir estes ideais anti-humanos de perfeição absoluta , em que se desvaloriza totalmente a humanidade real que nos é própria ,
em detrimento de um “ ideal ” Desumano e Impossível :
inevitavelmente sofremos o efeito do completo absurdo esquizofrênico religioso , seja , cristão , muçulmano, etc –
que oferece como oportuno lenitivo à óbvia e programada frustração de não atingí-lo > um adiamento post mortem, ou seja :
a felicidade da inumana perfeição seria alcançada no encontro com um “fabricado” deus .
Na fábula do absurdo Adão , o primeiro anjo pecou , e nós , anjos caídos descendentes dele ,
estamos fadados a cada passo a estarmos mais próximos do cadafalso .
Aí então , nos é conferida a primeira lição esquizofrênica , juntamente com a noção de Imperfeição .
A “ tal ” esperança plantada como uma célula terrorista em nossos corações ,
ou como um chip infestado de vírus em nossas almas é de que a Terra e nossa condição de Humanos é tudo aquilo que não é o Paraíso Perdido . É “a” Imperfeição .
E , de nossa parte … passamos a interpretar a lição : promovendo, confusos ,
uma devastação nas condições de vida que vão das relações do homem com o meio-ambiente até as mortificações das inter-relações .
Ah … todo anjo é atemorizante, escreveu Rilke . . .
… é aquele que não deseja … – não erra … – não vive … não é triste e nem é feliz . É morto e Perfeito .
Enfim , aquele velho e pequeno labirinto metalingüístico onde o acaso anda à solta , como um anjo ,
a promover desencontros e mal-entendidos humanos antropoformizando metáforas anêmicas , errôneas,
desorientadoras e desumanizadoras ,
promotoras do slogan da dualidade pregando a esperta desvalorização do corpo e o safado engrandecimento da alma à la Descartes :
“ O que é Ação para a Alma : tem que ser padecimento para o corpo. “
Descartes
Peguei um atalho no dicionário de símbolos do Chevalier para voltar a Jung :
. . . o animal , em sua qualidade arquétipa , “representa as camadas profundas do inconsciente e do instinto .
Os animais são símbolos dos princípios e das forças cósmicas , materiais e espirituais.” – 1993, p.57 –
De acordo com o autor , o animal é um conjunto de forças profundas que animam o homem e ,
dentre estas forças , a primeira a se destacar é a libido , ou seja : o Desejo .
Para Jung , “ o animal é visto como um importante conteúdo psíquico a ser integrado pelo homem : o Instinto .
Jung nos adverte :
“ animal que é no homem a psique instintual , pode tornar-se perigoso , quando não é reconhecido e integrado na vida do indivíduo .
A aceitação da alma animal é a condição da unificação do indivíduo e da plenitude do seu desabrochamento ” . – 1993 – 238/239 –
” O conflito entre ética e sexualidade , em nossos dias ,
não é uma ” mera colisão ” entre instintividade e moral ,
mas uma luta . . . para ” justificar ” a presença de um instinto em nossas vidas
e para reconhecer neste instinto um poder que procura sua expressão ,
e com o qual , manifestadamente , não se pode brincar . . .
e que , por isso , também não quer se submeter às nossas “ bem-intencionadas leis ” .
Carl Gustav Jung
Ou seja : não quer se desumanizar .
Em Matthew Bourne’s Lake Swan , Siegfried , à princípio rejeitado pelo Cisne Negro é abraçado carinhosamente por ele no final .
Porque este era seu desejo natural, sua verdadeira e humana natureza .
Ao se “despir “ deste artificial e massacrante ideal de Perfeição e Pureza e ” dançando ” o Cisne Negro ele aceita-o em sí mesmo >
Ah … aí então ele transforma seus movimentos em Vida e desabrocha em inigualável e triunfante Beleza .
Bourne também não deixa claro se Siegfried de fato interagiu com os cisnes ou se são fruto de sua imaginação .
Pessoas que perderam parentes e bens não terão direito a seguro nenhum !!!
Foi decretado estado de calamidade pública pelo governador , e asseguradoras ficaram desobrigadas de pagar .
Tão logo as notícias saiam do ar, as pessoas se esqueçam de que famílias inteiras continuarão sem recursos materias básicos necessários para uma vida normal .
Todo ato solidário é de extrema ajuda !
LEMBRE QUE AS FORMAS VERDADEIRAS DE AJUDAR E PARTICIPAR SÃO INCONTÁVEIS .
Sou Exu ; Passo e cruzo ; Traços misturam e arrastam o pé ;
Sou reboliço e alegria ; Rodo , tiro e boto ; Jogo e faço fé ;
Sou nuvem , vento e poeira ;
Quando quero , homem e mulher ;
Sou das praias , e da maré ;
Ocupo todos os cantos ;
Sou menino , avô , maluco até ;
Posso ser João , Maria ou José ;
Sou o ponto do cruzamento ;
Durmo , acordo e ronco falando ; Corro grito e pulo ;
Faço filho assobiando ;
Sou argamassa ; De sonho carne e areia ;
Sou a gente sem bandeira ;
O espeto , meu bastão ; O assento ? O vento .
Sou do mundo , nem do campo ; Nem da cidade ;
Não tenho idade ;
Recebo e respondo pelas pontas ;
Pelos chifres da nação ;
Sou Exu ; Sou agito vida , ação ; Sou os cornos da lua nova ;
A barriga da lua cheia ;
Quer mais ? Não dou ; Não tou mais aqui !
Jorge Amado
Lend me your arm:
lift me up on your wings. Together,
we watch the world grow old
yet, never die.
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Words flow from your fingers-
skipping stones and sandals on ocean waves.
Mirth and light-hearted contempt
for gravity and possession
Exu Lonan, o Senhor dos Caminhos
Exu Osije-Ebo, o Mensageiro Divino
Dancing gleefully upon the sky,
lips whisper plans to take the fire from
Helios’ crown, and return it to the realm
of men.
Exu Bará , o Senhor (do movimento) do Corpo
Exu Odara , Senhor da Felicidade
Exu Inã , o Senhor do Fogo
Perchance, the fire of a different kind
be deemed appropriate to their needs:
your lute’s melody plays
in hearts.
Exu Eleru , o Senhor da Obrigação Ritual
Exu Yangi , o Senhor da Laterita Vermelha
Exu Elegbara , o Senhor do Poder da Transmutação
Exu Agba , aquele que é o ancestral
Laroiê – Exu !
Uma Madrugada na Oficina de Mercúrio-Exu
Exu , Orixá do Começo .
Mércúrio , sua mini-saia , caduceu e pés com asas .
Mércurio , do panteão mitológico romano , corresponde ao grego Hermes , senhor das “mensagens” –
uma espécie de ” poeta ” , ” inventor ” , ” comerciante ” ,
” ladrão sagaz ” e ” esperto leitor ” dos designios das outras divindades .
Conforme narram as teodicéias clássicas , sobretudo em Homero ,
Mercúrio era o único filho que Zeus não tivera com Hera .
Nascido na Arcádia , filho de Maia , demonstra ainda bem menino uma esperteza e inteligência incomuns .
Uma de suas peraltices foi a de ter escapado do berço e chegar com grande desenvoltura em Téssália ,
donde rouba parte significativa do rebanho pastoreado pelo seu irmão Apolo .
Ladino que era , trata logo de esconder numa caverna o fruto de sua ” apropriação ” .
Esperto , como somente ele , retorna ao berço , como se nada de extarordiário tivesse acorrido .
Mas eis que Apolo descobre o furto e o seu autor , tratando de levá-lo à presença do Pai Zeus .
O castigo do pai ao filho foi que tratasse de imediato de devolver os animais a Apolo .
Mercúrio , entretanto , põe-se a tocar a lira – instrumento musical por ele inventado
com as víceras de um dos animais que imolara .
Apolo , esquece-se de imediato da sentença de Zeus ,
encantado que ficara com aquele engenho do qual brotava um som belo ,
que fazia vibrar o ar maneira que nem mesmo o vento no alto das colinas conseguia produzir :
era a música que arrebatara o coração de Apolo .
Dá-se pois uma transação comercial entre os dois irmãos :
A lira em troca do rebanho e ainda o caduceu
– bastão com propriedades mágicas que aparece na maioria das representações plásticas do deus Mercúrio –
que confere a esse o dom da adivinhação .
Em muitas das obras plásticas clássicas ,
Mercúrio é representado como um rapaz bonito vestido apenas de uma mini-túnica .
Traz na cabeça um capacete alado ,
tal qual suas sandálias trazendo na mão seu principal símbolo , o caduceu .
Essa excurção breve nesse universo mitológico grego-romano
deixou nas línguas originadas do latim- a exemplo do espanhol e do português , marcas até hoje não apagadas .
A exemplo de Mercúrio/Hermes em grego , ficou a palavra ” hermeneutica ”
– que significa o ato social de ” ler/interpretar ” com profundidade os textos ditos ” herméticos ”
[considerados difícies…densos] – em geral os de origem filosófica e religiosa .
Esses traços sagrados-profanos que desenham as caractéristicas de Mercúrio ,
o fazem na mitologia greco-romana e podem ser relacionados aos atributos de deuses de outras mitologias ,
a exemplo da pouco conhecida , porém tão rica e cheia de sutilezas Mitologia Africana .
” Exu ” do yorubá ” Esu Osije ” – o Mensageiro dos Orixás , – senhor dos mil ardis , o criativo e engenhoso ,
aquele que se deleita em estratagemas , o que ri no escuro , o que anda ligeiro , o mestre das ambivalências
[ Ver de João Ubaldo Ribeiro – Viva o Povo Brasileiro ] .
Exú que conhecemos através da Umbanda e do Candomblé , a entidade mais temida,
mais incompreendida e ao mesmo tempo mais buscada .
Ele é o Orixá que rege o jogo de Búzios , uma modalidade divinatória .
Diz um mito que Exu é o único Orixá que tinha esse poder , mas decidiu compartilhá-lo com Ifá
em troca de receber as oferendas e pedidos antes de qualquer outro Orixá .
Exu nada tem em comum com o diabo lúdico , e as esquisitas estátuas comercializadas
e utilizadas arbitrariamente em terreiros são frutos da imaginação de visionários
que não enxergam nada além das manifestações dos baixos sentimentos em formas deprimentes ,
nos seres que lhes são afins .
Exu corresponde a Príapo , a Hermes , a Mercúrio ,
deuses mensageiros ou protetores da sexualidade masculina : nunca ao Demônio “cristão ”
ou pelo “ medo ” inventado pelos “ cristãos ” como ferramenta de poder .
Exu é o mensageiro dos deuses , seu poder é o de receber
e transportar os pedidos e oferendas dos seres humanos ao Orum, o Mundo dos Deuses .
É o Senhor dos Caminhos , das encruzilhadas , das trocas comerciais e de todo tipo de comunicação .
Ele representa também a fertilidade da vida , os poderes : sexual , reprodutivo e gerativo .
Não podemos nos esquecer de que o sexo ,
diferentemente do que os “ cristãos ” dizem (uma coisa de luxúria, de pecado) ,
é na verdade um ato sagrado , em diversas mitologias pagãs .
Talvez por isso , por ele representar o poder sexual , os cristãos o comparem com o Demônio .
Exu também tem os seguintes epítetos ou atributos :
Exu Lonan , o Senhor dos Caminhos ;
Exu Osije-Ebo , o Mensageiro Divino ;
Exu Bará , o Senhor (do movimento) do Corpo ;
Exu Odara , Senhor da Felicidade ;
Exu Eleru , o Senhor da Obrigação Ritual ;
Exu Yangi , o Senhor da Laterita Vermelha ;
Exu Elegbara , o Senhor do Poder da Transmutação ;
Exu Agba , aquele que é o ancestral ;
Exu Inã , o Senhor do Fogo .
Laroiê, Senhor Exu!
Larô-iê, Exu, senhor dos começos !
Imagens :
Michael Parkes
– Texto :
– Uma Madrugada na Oficina de Mercúrio-Exu
De um modo geral , as encruzilhadas ( do mundo ) são loci da comunicação ,
das línguas, das feiras temporárias e permanentes , dos mercados , das cidades ,
dos teatros edificados e das profissões das artes do espetáculo .
Aí se encontra a Esfinge (e suas charadas mortais) , Tirésias ( o que vê mais quer os demais , sem nada ver , tão importante para theorein e para theatrum ) ,
Hermes (o que nos legou o poder da interpretação dos textos sagrados e o grande problema da traduzir e trair; na expressão italiana: traduttore traditore ) .
Por aí vem Dionísio ( o estrangeiro , que será patrono do teatro e da milenar questão sobre as distinções entre cultura e civilização )
e por aí circulam Mercúrio ( o patrono romano do comércio ) , Exu ( a entidade gege nagô , do trato humano com a natureza e o sobrenatural ) ,
todos os mensageiros e tricksters ( responsáveis pelos bem entendidos e pelos mal-entendidos , esses os que descontrolam ) e todos os diabos e fadas ( que desencantam e encantam ) .
Aí , nas encruzilhadas , lugares de encontros e desencontros , também ,
se constróem os monumentos memoriais e a sinalização de tráfego ( que tentam tudo controlar ) e residem , simultaneamente , o perigoso e o maravihoso .
Encruzilhadas são a casa da angústia existencialista da escolha do caminho a tomar ou da imobilidade .
Mover-se ? Para onde ? Para trás ? Para a frente ? Por qual dos caminhos ?
Aí a rotina ordinária convive com os acontecimentos extraordinários .
Daí serem sua melhor representação , os teatros , encruzilhadas de dança ,
teatro , ópera , música , magia , diversão , sobrevivência e vida das artes do espetáculo!
Aí se cruzam pessoas de todo tipo , inclusive marginalizados que só aí têm lugar .
Aí e em encruzilhadas vizinhas ( bares , guetos , etc ) , formaram-se alguns dos mais importantes ícones de povos do Atlântico Negro:
o tango argentino , o candomble uruguaio , o samba brasileiro , o fado português , o flamenco andaluz e o jazz norte-americano !
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"...vamos planejar e cumprir nossas fugas do que é morbidamente banal, bem como do que é cronicamente vazio ou brutal. Assim o espírito se ergue em pleno esplendor."
A ciranda das mulheres sábias
Clarissa Pinkola Estés